quarta-feira, 20 de março de 2024

CASA DOS PAPÉIS-342: A UNIÃO - Nºs 20/21 e 22



ANO I - DOURADO, 21 DE FEVEREIRO DE 1932 - N.20

CARTA DE ITATIBA
Aos meus bons amigos BENEDICTO DE OLIVEIRA, LEONARDO RUSSO, JOSÉ PLACERES e GAUDENCIO DEL CIEL.

Foi com enorme satisfaçãoque recebi hoje pelo correio da manhã, o nº 18 d' "A UNIÃO", o novo periódico que veio à luz da hospitaleira cidade de DOURADO, e em cuja sociedade conviví pelo espaço de 3 annos, acompanhando e perto o mourejar incessante desse povo ordeiro e trabalhador.
"A UNIÃO", apresenta um aspecto atthraente: bem feito, bem redigido e em suas columnas se encaixam optimas collaborações e vasto noticiario não só das menores coisas da cidade e municipio, como dos interesses da C. E. F. DOURADO a quem pertence o novo jornal.  
A publicação desse optimo semanario deve-se exclusivamente aos esforços de um punhado de dignos ferroviarios bem intencionados, homens de iniciativas elevadas, de larga visão sobre o progresso e que em perfeita conjugação de ideais alevantados, empregam, sem desfallecimentos, todos os seus esforços em bem da collectividade e bem assim da vasta e laboriosa classe dos funccionarios da C. E. F. D., que nõ se deixam permanecer em terreno inativo, não se limitam apenas ao trabalho das repartições.
Pelo contrario: a sua acção se faz muito notar fóra desse ambiente , de onde, após terem cumprido com seus deveres de dedicados funccionarios, sahem para estenderem as suas vistas pela cidade onde vivem e todos, representando um só pensamento, procuram sempre elevar DOURADO à altura das grandes cidades.
Ainda ha pouco dotaram essa cidade de um magestoso estádio, um dos primeiros da zona DOURADENSE e, para a sua construcção, não foram poupados esforços, sendo que os maiores obstaculos foram removidos com galhardia por aquelles obreiros do progresso, que realmente o são os funccionarios da DOURADENSE. Aliás, isso deve onstituir um grande orgulho para a hospitaleira cidade de DOURADO.
Assim, pois, hoje distanciado do contacto dessa nobre gente, não poderia, em absoluto, deixar de saudar o povo DOURADENSE por mais esse passo de progresso, com os meus francos applausos a mais essa brilhante victoria dos funccionariuos da C. E. F. D., em cujo seio conto leaes e verdadeiros amigos.
NESTOR DE AZEVEDO
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N. da D. = No preambulo desta carta, que publicamos prazenteiramente como artigo de fundo, o brilhante missivista que subscreve as linhas acima, disséra ter convivido com a nossa gente, mas não fez transparecer qual fôra a sua atuação. Si bem seja s.s. bastante conhecido dos DOURADENSES que reconhecem a sua competencia, acrescentamos: que, duarnte a sua permanencia em DOURADO, desenvolveu na imprensa, vigoroso trabalho pelo nosso progresso citadino, fazendo brilhar, como até agora brilha, o coléga "O DOURADO" do qual foi um dos mais estremados redator. 
C. e S.
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INSTRUÇÃO PUBLICA
Para que fique bem conhecida a extensão da população infantil desta cidde, dentro de uma raio de 2 km., o sr. diretor do GRUPO ESCOLAR iniciará amanhã o serviço de recenseamento.
Por esse motivo solicita aos pais de crianças a fineza de fornecerem aos encarregados do serviço todos os dados solicitados, mesmo quer elas frequentem escolas particulares.
De acordo com as novas determinações do sr. Diretor Geral do Ensino, os estabelecimentos desdobrados passaram desde o dia 15, a funcionar das 9 às 13 horas, e das 13 1/2 às 17 1/2 horas.
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Dr. DOMINGOS FARO
- ADVOGADO -
PRAÇA  S. JOÃO N. 7
** DOURADO **
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CLUBE ESPORTIVO FERROVIARIO DOURADENSE
O snr. Presidente do CLUBE ESPORTIVO FERROVIARIO DOURADENSE, em 17 do corrente, convocou uma reunião da Diretoria, na qual, segundo estamos informados, foi posta em discussão a melhor fórma para se crear uma séde para o clube.
A sua efetividade não resolverá tão sómente a sua aspiração, como preencherá uma necessidade, e podemos asseverar que, mais uma vez a incansavel Diretoria, provará a sua bôa vontade, e dará mosta do seu esforço no sentido de dar melhor brilho à sociedade da qual merecem os FERROVIARIOS, e si ela nos permitir, ventilaremos futuramente a sua resolução.
FERROVIARIOS!. Cooperar para uma obra que, que para vós foi levantada e, para vós mesmos esta´sendo consolidada. É dar prova de reconhecimento!.
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SOCIAIS
Fazem anos:
Hoje, o sr. ALBERTO TAVANO, estimado gerente da SAPATARIA POPULAR, desta cidade;
Amanhã, a galante menina ALICE, filha da exma. sra. d. ELIZA FATORE VARELA e do sr. ANGELO VARELA, pintor nas oficinas da C. D.;
No dia 23, a béla menina THEREZA ERCILIA, filha do sr. PASCHOAL TAVANO, acreditado comerciante nesta praça;
No dia 24, o inteligente menino OSMAR, filha da exma. sra. d. MARIA D'ABRUZZO PIZANI.
À todos os nossos parabéns.
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SELARIA UNIÃO
Acaba de ser instalada à Rua João Pessôa,47, uma bem montada selaria, cuja denominação encima estas linhas, sendo de propriedade dos srs. FARIA & PERRONE.
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ANO I - DOURADO, 28 DE FEVEREIRO DE 1932 - N.21
CARTA ABERTA
Ao prezado amigo NESTOR DE AZEVEDO.
Agradavelmente surpehendidos, lemos estampada em o ultimo numero d' "A UNIÃO" a tua gentilissima carta em que teceste considerandos sobre o advento desse modesto e despretencioso semanario dos funccionarios da Cia. E. F. DOURADO, e do inexpressivo espirito de cooperação que, a classe humilde, mas laboriosa e cheia de boa vontade dos ferroviarios da Cia. E. F. DOURADO, emprestou, tem emprestado e espera continuar a emprestar sempre, ao progresso e à grandeza desta magnifica celula do grandioso e tradicional Estado de São Paulo, que é a cidade de DOURADO.
Consubstanciando com uma referencia de justiça, devemos dizer que, a publicação d' "A UNIÃO", essa alacre e sempre esperada visita das manhãs domingueiras, devemol-a, ao par do esforço e homogeneidade de ideaes dos ferroviarios da C. D. ao espirito de iniciativa e irredutivel força de querer que a tudo vence, do snr. ADELINO FRANCO, e do ex-funccionario da DOURADO, mas sempre ardoroso ferroviario, snr. ALEIXO CORRÊA E SILVA.
Em nome da collectividade dos ferroviarios da C. D. agradecemos a tua honrosa referencia ao palido concurso que ella tem dispendido e com renovada satisfaçãoi continua a dispender em pról de DOURADO, concurso esse que foi por ella sempre considerado um dever muito grato, como só e ser, um dever de patriotismo de brazileiros e brazileiros por adopção, em pról da grandeza e renome do Brasil.
É, pois, caro amigo, com elevada intenção de bem servir a esta abençada terra, propugnar pelo seu adiantamento material e moral, fazel-a saliente no concerto das cidades progressistas - é que os ferroviarios da C. D. se empenham com a melhor sobra das suas energias, que empregam na empreza em que servem, e d'onde tiram em troca do trabalho diuturno o seu elemento de vida.
Acceite, pois, NESTOR amigo, junto aos agradecimentos bastante sinceros e leaes dos ferroviarios da C. D. as melhores saudações dos teus amigos que, abaixo se subscrevem.
BENEDICTO DE OLIVEIRA, JOSÉ PLACERES, LEONARDO RUSSO e GAUDENCIO DEL CIEL.
DOURADO, 26 de Fevereiro de 1932
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D'ALEM MAR

Existe em teu olhar a magna tristeza
D'um'alma a recordar um sonho divinal;
Um soluço d'amor a pallida beleza
Da luz d'uma saudade tremula e etheral.

Atravessaste o mar, da terra portugueza
Chegaste ao meu Brazil, amando a Portugal;
E o mar, que viu em ti a desejada preza,
Jamais poude sentir teu corpo espulptural.

Trouxéste em teu olhar, como lembrança, loucas 
Saudades, minha flor, da infinda nostalgia
Dos fados a chorar na terra das cachoupas...

O fogo da paixão, que symbolisa a raça...
A candura do amor, que em luz e poezia,
A magua não consome, e o tempo não abraça...
                                                                    JAYME DE ARRUDA CRUZ
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HOTEL PORTUGAL
Comunica-nos a sra. d. ROSA DE CARVALHO, que acaba de montar no mesmo predio em que funcionava a sua casa de Pensão, um otimo hotal com a denominação que serve de titulo a esta noticia.
Dispondo de excelentes quartos aos senhores viajantes e exmas. familias e de pessoa habilissima na arte culinaria, é de se esperar que o "HOTEL PORTUGAL", torne o mais preferido da nossa cidade.
No novo hotal, às 4ª feiras, o prato prediléto será "Feijoada à Baiana".-
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S O C I A I S 
ANIVERSARIOS
Fazem anos:
No dia 3 do mez p.v. o distinto cavalheiro sr. RAUL CUNHA, funcionario do Esritorio do Trafego;
No dia 7 do mesmo mês, o jovem SILVIO PLACERES, funcionarrio das oficinas e filho conceituado cidadão, sr. JOSÉ PLACERES, chefe das oficinas.
Parabéns.
Viajantes:
Para São Paulo,
Snr. JOANICO DE ARRUDA CRUZ e GUILHERME MURBACH;
- Araraquara, snr. DIONISIO MURBACH;
- São Carlos, snr. HERCULANO ANDRADE..
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ANO I - DOURADO, 6 DE MARÇO DE 1932 - NUMERO 22

C  A  F  É
Foi o seguinte o movimento de café durante o mês de fevereiro, recebido nas estações da DOURADENSE:-> FERRAZ SALLES,434 saccos; DOURADO, 8.828; SANTA CLARA, 194; TRABIJÚ, 400; BOA ESPERANÇA, 116; JAVA, 306; PEDRA BANCA, 33; PONTE ALTA, 1.186; GAVIÃO PEIXOTO, 1.507; NOVA PAULICÉIA, 53; NOVA EUROPA, 418; TABATINGA, 194; IBITINGA, 4.022; SÃO LOURENÇO, -; ITAPOLIS, 8.001; SAMPAIO VIDAL, -; MAJOR NOVAES, 449; PEDRO ALEXANDRINO, 2.446; BOCAINA, 6.328; IZAR, 64; POSTO RANGEL, -; TABOCA, 246; SANTA EULALIA, 975; BARIRY, 11.381; MORAES BARROS, 40; MARAMBAIA, 916; BICA DE PEDRA, 136; JOSUÉ PRADO, -; PACHECO, 68; e JAÚDOURADO, 608 = TOTAL: 49.849 saccos.
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Quereis vestir um terno ao rigor da moda?
Procurae a ALFAIATARIA UNIÃO de RAPHAÉL BLUNDI
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CLUBE ESPORTIVO FERROVIARIO DOURADENSE
Estamos informados que por iniciativa do simpaticoa "BÔA ESPERANÇA FUTEBOL CLUBE" da cidade que ele empresta o nome, foram entaboladas as negociações entre aquele Clube e o "FERROVIARIO" para realização de um jogo amistosos entre os nossos valentes "players" que deverá ter lugar hoje, no estádio, já gramado, do magestoso "PARQUE SÃO PEDRO".
Coube portanto ao "CLUBE ESPORTIVO FERROVIARIO DOURADENSE" a dita de reiniciar nesta bela cidade as atividades esportivas, de cuja distração ela já se resentia há mais de dois mezes.
Felicidades, e pleno exito é o que desejamos para os queridos defensores das cores "alvinegro".
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Não se esqueçam de a alfaiataria de PASCHOAL COLABONI
satisfaz o mais exigente freguez.
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S  A  U  D  A  D  E  S
19 hóras. . .
Sósinho, recolhido em meu apozento, gozando das poucas horas de lazer, caio em profunda meditação... 
Nesse momento acóde a idéa, ternas recordações de um tempo ditoso, que tive a ventura de passar gozando os primores da infancia!. . .
Ah! adversidades do destino!
Hoje, vejo-me só, olvidado sem ter uma palavra amiga que me anime, sem nenhum consolo para as minhas maguas!. . .
Oh! que desventura!
Somente as quatro paredes que me ocultam em o seu ambiente taciturno, são as testemunhas mudas do triste cenario da minha alma. . .
A minha monotomia é imensa.
Procuro desvanecer as minhas decepções, inflamando um cigarro, e, placidamente atiro ao ar uma nuvem de fumaça. . .
A qual vai perder-se invisivelmente n'aquele této que me abriga de um modo tão misterioso!. . .
OIRO SEUGRAM
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S   O   C   I   A   I   S
ANIVERSARIOS
Fez anos:
Hontem, o nosso presado amigo, sr. MIGUEL COLAGROSSI, muito correto agente do correio, local;
No dia 8, o distinto moço, sr. IDELFONSO PELAES, filho do sr. MANOEL PELAES, abastado industrial nesta cidade;
No dia 9, a exma. sra. d. JOSEFINA ROSA ABRANCHES, esposa do sr. JOAQUIM ABRANCHES, funcionario das oficinas da C. D.;
- O sr. FELIX VANUCHI, acreditado proprietário da PADARIA ROMA, desta praça;
No dia 10, a graciosa menina GUIOMAR, filha da exma. sra. d. JOSEFINA ABRANCHES e do sr. JOAQUIM ABRANCHES.
Os nossos parabens.
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ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS / FAMILIA GAUDENCIO DEL CIEL
Nota do Blog: NESTOR DE AZEVEDO, pai do nosso saudoso amigo JOSÉ NARCISO AZEVEDO (ZÉ DA ANA).
E "OIRO SEUGRAM", também saudoso amigo, colaborador e  mentor da futura criação desse blog, citado na primeira publicação em 2.016 , ORIO MARQUES COSTA. 



  









sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

CASA DOS PAPÉIS-341: SILO AMERICANO

CORREIO PAULISTANO

Nº20.101-FLS.3-S.PAULO, SABBADO, 21 DE JUNHO DE 1919

 

EXCURSÃO PRESIDENCIAL

INAUGURAÇÃO DO SILO AMERICANO NA FAZENDA S. CARLOS

 

Como noticiamos, em carro especial, ligado ao rapido de quarta - feria, daqui partiu com destino a DOURADO o sr. Dr. ALTINO ARANTES, presidente do Estado, acompanhado dos srs. CANDIDO MOTA, secretario da Agricultura; Dr. CARLOS BOTELHO, senador eleito; capitão HERCULANO DE CARVALHO, ajudante de ordens presidenciais; dr. BENEDICTO DE AZEVEDO MARQUES, da Directoria de Viação; dr. MARIO MALDONADO, director da Industria Pastoril; dr. CLOVIS DE CARVALHO, official do gabinete do sr. Secretario da Agricultura; dr. LEOPOLDO DE FREITAS, ALCYR PORCHAT e representantes da imprensa. 



Essa excursão tinha por fim assistir à exemplificação do primeiro silo americano,  construido em solo paulista por iniciativa particular e com recursos materiaes da propria região, na fazenda S. CARLOS, de propriedade do sr. Dr. CARLOS BOTELHO, e tomar parte no banquete offerecido a este pela POPULAÇÃO DOURADENSE, em regosijo pela sua recente eleição a senador.

Em todas as estações principaes por onde passava, era o sr. Presidente do Estado cumprimentado pelas autoridades locaes. Em Ribeirão Bonito foi offerecido à comitiva um ligeiro “lunch”, orando por essa occasião o sr. Professor JOÃO LEMOS NETO, que trouxe ao sr. Dr. ALTINO ARANTES as boas vindas da população DOURADENSE, e o sr. Dr. RUY DE PAULA SOUSA, que o saudou em nome da população de Ribeirão.

S. exc. Agradeceu, em rapidas palavras, seguindo dali a comitiva presidencial acompanhada da comissão encarregada de a levar até DOURADO, de autoridades de Ribeirão Bonito e pessoal da DOURADENSE, representado pelos srs. Drs. CYRO MARCONDES DE REZENDE, superintendente; WASHINGTON MARCONDES FERREIRA, chefe de linha, e JOSÉ DEL CIEL, ajudante de trafego.

 

EM DOURADO

A população de DOURADO reservára aos illustres itinerantes uma bella e enthusiastica recepção.  A estação regorgitava de povo, que acclamava ininterruptamente os srs.  Dr.ALTINO ARANTES, dr. CANDIDO MOTTA e dr. CARLOS BOTELHO.

Ss. Ecxs. desceram do carro ao som do Hymno Nacional.

Toda a cidade achava-se embandeirada festivamente, vendo-se em grandes disticos os nomes dos membros do governo.

A comitiva seguia a pé para o edificio do grupo escolar, onde tomou a palavra o sr. Dr. AURELIO NEVES, para saudar o sr. Presidente do Estado.

Em breve e eloquente allocução, o orador referiu-se ao jubilo que, naquelle instante, empolgava os DOURADENSES, cuja cidade recebia como uma extraordinaria graça a visita de s. exc. E sua comitiva.

O sr. Dr. ALTINO ARANTES levanta-se, em seguida, para agradecer. Diz s. exc. Que se sente tocado profundamente pelo carinho daquella recepção, embora sinta que as manifestações de que é alvo vão além da sua pessoa para a mais alta autoridade do Estado, a cuja guarda estão entregues o conforto e a felicidde do povo de sua terra. Todas as vezes, porém, que se approxima desse mesmo povo, tem a satisfação de ver que os seus actos, todos dictados pelo amos dos seus coestaduanos são devidamente apreciados e recompensados. Renova-se, no seu espirito a fabula de Antheu, que cada vez que tocava a terra natal hauria novas forças para luctar e vencer. No fim do seu quadriennio elle vê nessa homenagem a sinceridade que o conforta para novos embates e que será, com certeza, o melhor acenno de encorajamento para a victoria dos seus esforços. Ergue, pois, a sua taça à prosperidade e à grandeza de DOURADO, cujo futuro assenta, indestructivelmente numa base solida de trabalho e de emprehendimento que caracterizam naquella região, os valorosos filhos dos bandeirantes paulistas.

Fala, por fim, o sr. LEOPOLDO DE FREITAS, que sauda o povo e a edilidade DOURADENSE .

 

O SILO AMERICANO

 

De DOURADO partiram os illustres itinerantes para a bella fazenda S. Carlos, de propriedade do sr. CARLOS BOTELHO. S.Carlos é a séde das fazendas que o sr. Dr. CARLOS BOTELHO possue naquella zona, e que são em numero de quatro importantes nucleos coloniaes assim denominados: S. CARLOS, já referida, SANTA CONSTANCIA, VILLA LETICIA e S. LUIZ .

Em S. CARLOS fez o dr. CARLOS BOTELHO construir o silo americano, cuja exemplificação era um dos fins da visita do sr. Presidente do Estado.

A enssilagem, tão frequente e numerosamente utilizada pelos americanos do norte, que costumam fazer dos silos até uma industria, ainda não foi devidamente divulgada em nosso paiz, comquanto realize uma importantissima economia na alimentação do gado.

O silo inaugurado na fazenda S. Carlos é o primeiro construido por particular em todo o Brasil, com material local, tijolos, areia e fios de arame, que abraçam as paredes do silo numa circumferencia que se repete de 50 em 50 metros em linha ascencional.

O primeiro construido em S. Paulo por iniciativa official, foi erguido no Posto Zootechnico desta capital e é de cimento armado.

O silo construido pelo sr. Dr. CARLOS BOTELHO tem a capacidade de 84.000 kilos ou mais de forragem excellente.

Aproveita o seu proprietario, para a forragem, o milho com, palha e galho, excepto a raiz.

É formado de depositos sobrepostos de 8 metros de profundidade cada um, de onde se extrai o feno já fermentado.

O estabulo, que é uma parte integrante do silo,  é feito com o espaço de um metro lateral, que serve, de um lado, para muares e de outro para o gado vaccum, que prestam o serviço de formação de esterco para a agricultura em geral.

O princiapl alimento nesses estabulos é o caroço de algodão, capim ou qualquer outra forragem commum. É uma face interessante das observações do sr. Dr. CARLOS BOTELHO, que se estriba das maiores e mais respeitaveis competencias em cousas de agricultura e pecuaria, adquirida na pratica de todo o dia: o aproveitamento dos caroços de algodão, geralmente repudiado pelos criadores noviço ao gado e inadaptavel à sua alimentação. Applicando-o, porém, na alimentação e na engorda dos seus animaes, tem o sr. Dr. CARLOS BOTELHO alcançado os mais brilhantes resultados, razão pela qual é contra a desfazer-se, por parte dos lavradores, desse precioso alimento, que de modo algum, attenta, mesmo ao de leve, contra o leite ou a carne do gado.

O gado, naquelles estabulos é commum e utilizado somente na formação de estrume. Esses animaes acham-se soltos no respectivo estabulo.

A construcção do silo é, relativamente, baratíssimo. O seu objetivo principal é a economia da alimentação pelo aproveitamento de todo o residuo da fazenda, a engorda do gado e a selecção dos elementos nutritivos da forragem, por se tornar este de propriedade alimentar extraordinaria.

O dr. CARLOS BOTELHO pretende construir mais 3 ou silos, conforme as necessidades das suas fazendas.

Os srs. Dr. ALTINO ARANTES e dr. CANDIDO MOTTA, que seguiram attentamente as explicações dadas pelo sr. Dr. CARLOS BOTELHO sobre o silo, mostravam-se excellentemente impressionados, confessando reconhecer a extraordinaria vantagem dos silos, que deviam ser para logo adaptados em todo o estado, ou melhor em todo o Brasil.

Terminada a exemplificação do silo americano, offereceu o sr. Dr. CARLOS BOTELHO, um chá em sua residencia, voltando a comitiva a DOURADO à noite, para assistir ao

 

BANQUETE AO SR. DR. CARLOS BOTELHO

Este se realizou no salão do EDEN CINEMA, tendo nelle tomado parte, entre outras, as seguintes pessoas: LEOPOLDO MACHADO, BENEDICTO BUENO, J. RIBEIRO DOS SANTOS, TRAJANO PENTEADO, JOSÉ ALEIXO DOS SANTOS, RICARDO NEGRI, ALFREDO A. ARAUJO, JOÃO LEMOS NETTO, CAPITÃO OSCAR BARBOSA, DOMINGOS FRONTEIRA, ANTONIO FAVILLA, ARISTOTELES GALANTINI, ARLINDO SOARES DE AZEVEDO, LUIZ NOVAES, JOSÚE MARIA ASSUMPÇÃO, TOLENTINO F. MARCONDES, JOSÉ DE A. PENTEADO, REVMO. MANUEL SAMPAIO, JOSÉ BENEDICTO DUTRA, DOMINGOS FARO, DR. ALCEBIADES PIZA, ONOFRE PENTEADO, JOSÉ LUIZ BORGES, OSCAR BORGES, BRASILIO MACHADO, FRANCISCO BONILHA, DELPHIM PENTEADO, LAVINIO CORRÊA GALVÃO, JOAQUIM BRAGA, FRANKLIM M. ABREU, ANTONIO SALLES DE ABREU, JOSÉ LUIZ MELLO DE OLIVEIRA, ARISTIDES FRANCO, JOSÉ DEL CIEL, DR. WASHINGTON FERREIRA, HENRIQUE QUINTANA, BENEDICTO ALVES TOLEDO, DR. AURELIO NEVES, ANTONIO C. DE A. BOTELHO, DR. RUY DE PAULA  SOUSA.

SAUDAÇÃO AO GOVERNO

 

Ao “dessert” ergueu-se o professor JOÃO LEMOS NETTO, que leu o seguinte discurso:

Exmo. Sr. Dr. ALTINO ARANTES.- Meus Senhores:- Fazer a apologia do governo de S. Paulo é recapitular os factos que vêm assignalando esse mesmo governo na historia politico-administrativa de um povo que se impõe pelo seu desenvolvimento moral, de um Estado que se torna cada vez mais notavel pelo seu progresso material.

E si é certo que o Estado de São Paulo vem sentindo, vem manifestando num crescendo animado, um movimento ininterrupto de progresso, é innegavel que neste quatrienio a acção administrativa do governo foi effectivamente mais fecunda.

Moço ainda, cheio de energia e vitalidade, o sr. Dr. ALTINO ARANTES tem sabido imprimir uma orientação segura aos publicos negocios do Estado.

Como sucessor do grande estadista, do benemerito e saudoso conselheiro dr. RODRIGUES ALVES, cuja vida foi um exemplo de amor e patriotismo e cuja falta a nação inteira ha de sentirpara sempre, como sucessor daquelle notabilissimo homem publico, o sr. Dr. ALTINO ARANTES tem sido um continuador daquella politica prudente e toda de dedicação pelo bem publico. Tem feito admiravelmente o desdobramento do programma do venerando estadista, que tanto soube elevar o nome da sua patria, do nosso Brasil, no conceito das nações européas. E com essa emulação de patriotismo o dr. ALTINO ARANTES tem-se feito benemerito do povo paulista e acatado e admirado pelo Brasil inteiro.

T. Paulo, pela sua actividade commercial, pela sua producção, pela sua extensão territorial, pela sua responsabilidade politica, não é simplesmente um Estado; é um paiz da America do Sul. E é por isso que a sua administração envolve problemas delicadissimos com relação a politica internacional.

Pois bem; contando já com a enorme responsabilidade que iria pesar sobre seus ombros, o sr. Dr. ALTINO ARANTES acceitou a honrosa incumbencia, o delicado mandato que lhe foi conferido pela vontade unanime do povo paulista.

Mas, senhores, exactamente neste quatrienio em que se haviam manifestar fatalmente os abelos politicos financeiros decorrentes da conflagração européa; exactamente neste quatrienio em que mais graves, mais complicadas, mais complexas haviam de ser os problemas da publica administração do Estado, foi que o sr. Dr. ALTINO ARANTES assumiu o posto supremo da administração de S. Paulo. Foi assim que s. exc. Poz em evidencia  o seu tino administrativo, a sua energia mascula, o seu carcater de homem publico!

E hoje a nação inteira reconhece na pessoa de s. exc. O administrador emerito;e S.Paulo lhe rende um preito de homenagem e gratidão.

Mas, senhores, com tão grande descortino de vista, com tão segura orientação, era natural que o sr. Dr. ALTINO ARANTES tivesse o maximo de criterio na escolha de seus auxiliares.

E a prova mais cabal do acerto dessa escolha está no modo harmonico como se desenvolvem todos os departamentos da administração publica.

Os negocios do Interior do Estado estão confiados à alta competencia do sr. Dr. OSCAR RODRIGUES ALVES que, imprimindo a todas as dependencias da sua pasta uma orientação nova, tem remodelado todos os serviços daquelle departamento.    A tudo s. exc. applica directamente sua atividade e energia, tendo como unico escopo a justiça alliada ao interesse publico.

Alma vigorosa, caracter intransigente...

E, permitta dr. ALTINO ARANTES, que brindando o Estado de S. Paulo, na pessoa de s. exc. E externando esta minha sympathia pelo brilhante governo de s. exc., eu posso saudar o progresso, o desenvolvimento e a utilidade deste governo, bem como o carcater, a virtude e a honestidade, esse crysol de dulcíssimos dotes que vem borbulhando na alma de s. exc. DISSE.

 

SAUDAÇÃO AO DR. CARLOS BOTELHO

Serenados os applausos que acolheram as ultimas palavras do orador, levantou-se o professor DOMINGOS FARO, que leu o discurso que se segue:

“Excelentissimo sr. Dr. Presidente do Estado. Eminente mestre sr. Dr. CANDIDO MOTTA, illustre titular da pasta da Agricultura; illustrissimo sr. Dr. CARLOS BOTELHO, egregio senador estadual; senhores.- Cabe-me, ao tomar a palavra, que me dirija aos srs. Drs. ALTINO ARANTES, respeitavel presidente do Estado, e CANDIDO MOTTA, selecto homem de governo, cuja insigne visita por demais honrosa é o motivo deste jubilo que tumultua em todos os corações, e solicite a Ss. Excs. A devida venia para que, em nome deste povo, como seu representante, saude o mais prezado dos vultos que privam comnosco, o sr. Dr. CARLOS BOTELHO.

É sufficiente, para que se lhe avalie do alto apreço que vem merecendo, que se considere o afan com que ereis aqui esperado e o contentamento que se diffundia por todos os póros.

Haja vista o volumoso numero de adhesões com que contou a comissão de festejos, que ficará por certo bem patente, que si é em DOURADO a personificação do respeito para com os nossos homens de governo, e mui especial de sympathia para com o sr. Dr. CARLOS BOTELHO. A sympathia, entretanto, tem sua causa: na lhaneza de trato, no cavalheirismo, na magnanimidade de gestos, no que quer que seja que toque, que pulse, que vibre a fibra sensitiva do animal que ri.

Por tudo isto, é que s. exc. É aqui alvo de veneração geral, como em todo recanto do Estado, onde o transporte a aura bemfazeja da fortuna, porque como medico, agricultor, politico, estadista, tem impresso em seus actos um cunho de excepcional altruismo.  

Como medico. Filho do Conde do Pinhal, inclyto estadista do imperio, herdou do seu venerando pae as peregrinas virtudes que o ornavam, e é por isso que conta na capitral do Estado e nas cidades em que ha permanecido, immenso acervo de serviços à humanidade soffredora.

Facultativo de elevado valor pela Faculdade de Medicina de Paris, contava, em época de sua actividade medica, vasta clientella admiradora, da qual em parte não se abstinha de diminuta remuneração e de outra só percebia expressões repassadas de agradecimentos.

Bem merecidas lhe foram as referencias de alguem, que, em lhe fazendo allusão à fina philanthropia, chamou-lhe cornucopia de crystal, despejando flores e ambares selectos. Era nesse movimento constante de trabalhos e caridade que se lhe iam decorrendo os dias, quando a agricultura começou a exerce-lhe sua influencia, merecer-lhe considerações e estudos e o captivou para uma vida nova.

O que é como agricultor, Irmanando idéas com o sr. Dr. LUIZ PEREIRA BARRETTO, foi o mais dedicado cooperador do progresso rural.

Desde então, além de figura de destaque em conferencia, foi o mais apreciado collaborador da “REVISTA AGRICOLA”, e não se põe em duvida que, por seus artigos eivados de sabios ensinamentos, se conseguiu melhorar o trato do gado e importação de machinas agricolas americanas..

Por duas vezes, em viagens à Europa e America do Norte, poude observar processos de agricultura e colonização, inteiros desconhecidos e por fazer em S. Paulo.

Por ser espirito pesquisador e curioso, logrou grande incremento à cultura super - funda, cultura de sensivel alcance economico, como verificára o sr. Dr. WASHINGTON LUIS, operoso prefeito da capital, em demonstrações práticas na fazenda do Lobo.

É conhecendo-o agricultor adeantado, amante profundo da lavoura, que no dizer de s. exc. É a base solida da prosperidade da industria e commercio nacionaes, que têm sido pelo governo aproveitados seus conhecimentos.

Não pára aqui. Em qualquer terreno, mesmo da vida social, sua cultura é de indubitavel valor.

Numa das conferencias em palacio, foi de uma idéa feliz o illustre homenageado. Felicissima pela extensão do acendrado carinho para com o povo:- a idéa do oão brasileiro.

Disse. S. exc.:

Attendendo que alimentação sob o triplice aspecto de sua abundancia, qualidade e facilidade de acquisição, interessa a defesa nacional, tanto na paz, como nos periods anormaes da vida do paiz, no conceito das nações, indico:

Que o Directorio Regional de São Paulo da Liga da Defesa Nacional, por uma commissão dos seus membros, que deverá ser logo escolhida, promova a organização nesta capital de uma exposição de generos alimenticios nacionaes e sua confecção culinaria, comprehendendo a panificação das feculas nacionaes, como sejam as do milho, fava, tuberculos isolados ou combinados com trigo, com o intuito de se determinar a formula e fórma do “pão brasileiro”, normal, nutritivo e tanto possivel independente de exoprtação extrangeira.

Foi esta tocante obra de benemerencia, que indo bater de ouvido a ouvido o écoar de coração em coração, avolumou a onda de affecto que lhe tributa a população paulistana.

Como politico:

A politica é a arte de governar, e no governo é que o homem põe a nú o ambiente sentimentalista do seu Eu. É nesse pináculo poder, que o homem deixa ver o cortejo dos seus sentimentos: o autoritarismo e a condescendencia; o orgulho e a modestia; a rispidez e a brandura nos gestos.

O dr. CARLOS BOTELHO, de largo descortino, como é prova evidente sua passagem fecunda pela pasta da Agricultura, de espirito adeantado, como de ha muito vem revelando e recentemente no pleito de sua eleição a deputado, foi sempre de acção que girou em torno do beneficio do Estado e da felicidade do povo, como se denota pela divida notavel que assumiu para com os eleitores do 2º districto:

Tudo pela lavoura brasileira, estudo o fomento das nossas riquezas agricolas, fomento decisivo e intenso na pecuaria e industrias derivadas, defesa de todas as medidas garantidoras do barateamento dos fretes dos productos, instrucção publica primaria em installação menos luxuosa.

Só isto constitue a s. exc. Attestado eloquentissimo de que a politica que faz não é a que cubiça o subsidio, que aspira a posição de destaque, mas tão só, a que deffunde o bem, a que visa o saneamento do paiz, a instrucção do povo, o interesse da lavoura, a prosperidade e riquezas nacionaes.

- O dr. CARLOS BOTELHO, como estadista:

Como homem versado nas matarias do Estado. S. exc. Se tem imposto à estima do povo paulista, por sua erudição e tino administrativo.

Todos o conhecem um caracter integro, impolluto, dotado de extensa visão, visão esquadrinhadora das necesidades do Estado, como se potentou em seu discurso de 14 de maio de 1907, ao inaugurar-se a Escola Agricola Luiz de Queiroz. Si não fôra s. exc.  Tomado do vigor preciso e da energia imprescindivel para desenvolvimento das nossas fontes de saude e riqueza, não teria recebido a gratidão do povo santista  pelo saneamento daquella cidade, não teria fundado nucleos coloniaes, creado a Galeria de demonstrações de machinas, a Inspectoria de Immigração de Santos, animado a cultura da alfafa e da canna, fomento a cultura de fructas e recebido do povo sancarlense a demonstração de affecto de que é alvo por sua principal iniciativa na construcção da Escola Normal.

Porque é s. exc. Aqui muito prezado?

Porque? Porque é de ha 31 nnos que s. exc. Se relacionou com DOURADO, numa abundancia de affecto reciproco e se tornou o primordial agente propulsor do progresso local.

Porque foi aqui, ainda sem elemento civilizado, sem cidade definida, sem egreja onde se professasse o culto religioso, que s. exc. Se estabelecendo na propriedade agricola que possue, não poupou considerações à escassez de recursos com que então havia e nem se furtou ao trabalho de proporcionar à minguada população dquelle tempo, os meios de conforto cuja falta ressentiam.

Sua permanecia foi acolhida com vislumbre de esperança, que o progresso confeçasse a sorrir, como de facto, à medida que, à maneira da varinha de fada, sua mão deixava aqui e acolá commodidades para uma vida nova.

Assim é que se erguendo de um lado modesto templo provisorio, se plantavam de outro alicerces para uma casa digna, onde o povo religioso encontrasse conforto espiritual. Foi a mancheias que s. exc. concorreu para a fabrica do mesmo emplo, e eis porque vemos quasi concluido, em singelo typo gothico, symbolizando no explendor de sua simplicidade toda a sua dedicação por DOURADO.

O povo então embalado na doce crença da prosperidade crescente e no elevado prazer de quem experimenta a mudança rapida da face das cousas, começou a mover-se em direcção ao protector, ao patrono  expontaneo e carinhoso, que toda idéa abrigava com extremos de solicitude, para que se erigisse aqui um grupo escolar, onde seus filhos recebessem de instrucção e educação o necessario para uma estructura moral digna de cidadão.

E foi feliz o nosso povo.

A mira dos desejos ia ser satisfeita, porque se lançava a pedra primeira, marco do inicio da edificação daquelle predio confortavel e elegante, que deveria receber no seio diamantes brutos a lapidar-se, gerações a formar-se e a dever à Patria sua collaboração de filhos dedicados.

DOURADO deve à  s. exc. O movimento ascendente de sua população civil, na mór porção de civismo bebido naquella fonte rasgada por suas proprias mãos.

Para que se perceba a veracidade desta asserção é bastante que se attente à carencia do eleitorado ha 10 annos e o tumulto ávido e sequioso do voto consciente por occasião de eleições.

Ao demais, o maior civismo do nosso povo está na observancia fiel às leis, respeito maximo dos nossos homens do governo e conhecimento de sua vida publica.

A remodelação deste povo é obra exclusiva do amor de s. exc.

Peço licença aos exmos. Srs. Presidente do Estado e secretario da Agricultura, para erguer minha taça à felicidade pessoal do sr. Dr. CARLOS BOTELHO a quem esta terra tudo deve.

DISCURSO DO HOMENAGEADO

Levantou-se, em seguida, o sr. Dr. CARLOS BOTELHO, que, precedendo-o de algumas palavras que justificavam a commoção que o tomara naquelle instante, e que tão bem reflectiam todo o sentimento do povo de DOURADO, cuja alma se habituara a conhecer pela convivencia e pelo affecto, leu o seguinte discurso:

Exmo. Sr. Presidente do Estado,exmo. Sr. Secretario da Agricultura.

Vossa presença nesta cidade modesta, mas de trabalho como as suas irmãs paulistas, desperta no habitantes de DOURADO, cuja elite vos rodeia, tal contentamento que, causa parecida com o espasmo, lhes paralysa os movimentos e lhes estrangula a palavra, para só deixar livre a physionomia ridente e alegre pela qual vos agradecem o terdes querido fazer que não seja um sonho e sim uma verdade a honra que vos aprouve trazer-lhes.

É que as grandes sensações a que se habituam logo as opulentas e grandiosas cidades ainda não tinham vibrado nos corações DOURADENSES, nem lhes havia revelado a inacção cataleptica que o choque e o extase determinam.

Assim, é pela minha palavra pallida e balda de harmonias oratorias, que os DOURADENSES vêm saudar-vos. E eu, sem maior violencia, venha desempenhar-me do mandato, tanto mais orgulhoso e certo do seu bom cumprimento quanto vejo abertas as portas da vossa indulgencia para com a terra que mais não faz e para com o orador que mais não diz... proque a filha de Cesar tambem tinha restrições.

Obedeço ao doce mandato, tambem porque, ligado a esta terra mais pelo coração do que pelo interesse, e filiado à vossa intimidade de crystallina democracia, posso affirmar-vos que estamos aqui em familia, de cujo regaço só brotam flores das quaes emana o perfume da sinceridade.

Orgulhamo-nos da vossa presença aqui, sr. Dr. ALTINO ARANTES, tambem porque, investido da mais alta funcção administrativa do Estado, vindes dar testemunho pessoal de que não passa de uma lenda o esquecimento das pequenas unidades do progresso paulista, por parte daquelles que detêm o poder no seu grau mais elevado.

O edificio que houvestes por bem visitar, logo à vossa chegada, ergue-se do sólo ha uma dezena de annos e devemol-o a gesto administrativo, ainda que não poupado pelos que descriam da sorte da instrucção publica local. De nada valeram nem os apodos malevolos, nem a affirmação de que não havia logar aqui siquer para uma escola regia d’antanho.

Entretanto, foi necesario tambem aqui, como por toda parte, que os cursos se dedobrassem para satisfazer a incontida ambição de apprender da pequerruchada DOURADENSE! Cerca de trezentos alumnos frequentam aquelle altar de combate à ignorancia; outros se assentam às portas esperando logares. E que poderia eu dizer-vos do analphabetismo que reina pelas fazendas vizinhas, ainda impedidas de acesso à pia da instrucção?

Tambem não vos terá passado despercebido, senhores, o modo pela qual é praticado aqui  o culto catholico, cujo fervor religioso bem o attesta aquella matriz que vos abrigou para uma oração peregrina.

Não são ruinas dos templos da antiguidade que nos transmittem a historia da civilização das nações uqe desappareceram, é verdade, mas qua à terra osculavam com as mesmas manifestações de carinho?

Quanto à rqieuza agricola do municipio, só vos posso dizer que a terra se faz escassa para mais plantações cafeeiras, e, assim, um grau mais adeantado, como seja o modo intensivo de tratal-a, se vai impondo com sucesso, sendo firme o proposito de não mais se retroceder.

Entre outros fins, sr. Presidente, que possa ter a vossa auspiciosa visita, é inconteste que, acompanhando-vos o sr. Dr. CANDIDO MOTTA, vosso digno e operoso secretario da Agricultura, se destacapor certo a attenção especial que estais dedicando às cousas agricolas.

De facto, inaugura-se neste municipio o primeiro silo americano construido com os recursos locaes, e vós, sr. Dr. Secretario da Agricultura, bem compenetrado do que seja essa rama do trabalho agricola, acceitastes o gentil encargo de meu intermediario junto ao sr. Presidente, para que elle tambem participasse, com a sua honrosa presença, da primeira exemplificação dos silos na terra paulista. E, sr. Presidente, si aqui  estais, não é sem duvida pela só cortezia de attender a um convite, mas porque fizestes questão de tomar parte nesta festa, por demais modesta  no nosso entender, para merecer tão elevada distinção.

Não mais podendo estender-se em plantações novas, o municipio de DOURADO impõe-se aos seus fazendeiros orientação nova no trato das plantações já existentes. Quer isso dizer que cumpre a todos associar-se à obra da criação estabulada, que sabemos ser o modo pelo qual mais de prompto e com abundancia são produzidos os adubos que a terra requer para a formação das colheitas. Mas, sendo a Criação uma palavra ôca, si não ha farta e segura alimentação, é nesta que devemos pensar antes mesmo da construcção dos abrigos destinados aos animaes.

Dois processos existem para a conservação das forragens: a fenação e a ensilagem.

Nada direi do primeiro, por ser de todos conhecido, tanto quanto é sabido a sua inexequibilidade, em uma parte do anno, justamente naquella em que brotam leixuriosas as variadas  gramineas. Não devemos, todavia, dispensal-o sempre que se possa e haja occasião para assim praticar.

O segundo processo da conservação da foragem é o da ensilagem, que permite, a qualquer hora, e sobretudo nos tempos mais chuvosos, tudo cortarmos para encarcerar em uma torre e que chamamos SILO. Ahi, por acção de fermentações chimicas que deixa de esmiuçar para menor enfado dos que me ouvem, occorrem reacções ainda não bem determinadas pela sciencia, e em virtude das quaes é certa a conservação indefinida de todo e qualquer quantidade de forragem.

A construcção dos silos entre nós, não tinha podido nunca medrar, porque além da nossa ignorancia quanto à sua existencia e funcções, havia para os poucos que a tentassem...panico equivalente ao dos engenheiros nas construcões hydraulicas.

Pois bem, sr. Presidente do Estado, sr. Secretario da Agricultura e srs. Fazendeiros- tal torre para a ensilagem não mais fará “cucas” a quem quer que seja: - sua construcção é uma realidade no municipio de DOURADO, e tanto mais garantida quanto é certo que teve a sua resistencia comprovada, não só na carga de forragem que abriga, como nos pesos de ensaio a que foi submetida.

Dizer-vos mais sobre a importancia dete facto eria o mesmoque precisar attestar a sua existencia  na America do Norte, onde nem um só estabulo deixa de estar munido desse util instrumento para conservação alimentar.

Por toda a parte, ali, se sobrelevam aos telhados dos estabulos eminencias que mais não são do que os pontos culminante dos silos, sempre de sentinella contra a deficiencia das forragens.

Sr. Presidente do Estado, a vossa presença e do sr. Secretario da Agricultura, neste municipio, será rememorada, não mais em placas desse bronze já sediço em todas as festas a que tendes comparecido, porém, em relevo no coração deste povo, que a transmittirá, fiel, às gerações vindouras, impereciveis, enquanto imperecivel fôr o orbe que habitarem.

Pela vossa saude, sr. Presidente, e pela do sr. Secretario da Agricultura, permitter-me-eis levantar a minha taça em nome do POVO DE DOURADO.

 

 

Falou a seguir, o sr. Dr. LEOPOLDO DE FREITAS, que lembrou a administração do sr. Dr. CARLOS BOTELHO no governo JORGE TIBIRIÇÁ de quando lançou as bases da escola pratica Luiz de Queiroz, dando parabéns ao POVO DE DOURADO, que sabe reconhecer o valor dos nomes que surgem das urnas populares, como affirmações de prestigio pelo seu proprio valor. Levantou, em seguida, a sua taça, em honra ao reverendo padre MANUEL SAMPAIO, vigario de DOURADO, fazendo, então eloquente evocação de “René” e “Athala” e os serviços prestados pelos jesuitas desde a formação da nacionalidade, culminando em dedicações como Manuel da Nobrega, Anchieta e Aspicuelta Navarra.

O seu discurso foi bastante applaudido.

FALA O SR. PRESIDENTE DO ESTADO

Por fim levantou-se o sr. Dr. ALTINO ARANTES, S. exc., recorda no seu discurso, os serviços prestados pelo sr. Dr. CARLOS BOTELHO na pasta da Agricultura, constituindo-se em verdadeiro patrono desse admiravel movimentode intensificação da cultura do campo. Diz que o silo americano é uma concorrente poderosa  para a solução do problema agricola, taes são as suas qualidades de economia e perfeição. Affirmo que se presta ao sr. Dr. CARLOS BOTELHO uma justa homenagem, cujo sentido é uma prova dos sentimentos de amor e justiça do POVO DOURADENSE. Diz orgulhar-se, ao chegar em DOURADO, da prosperidade d sua situação, da belleza modesta e simples da cidade, que parece reflectir a bondade cast dos seus habitantes, educados na escola do trabalho, e ergue, por fim, a sua taça ao progresso da cidade e à prosperidade dos seus habitantes.

   Quinta-feira pela manhã, depois de haver assistido a uma missa celebrada especialmente pelo revmo MANUEL SAMPAIO, deixou o sr. Presidente do Estado, com a sua comitiva, a cidade de DOURADO, dirigindo-se para a Sesmaria de Cambuhy, de propriedade do sr. Coronel Leoncio de Magalhães.

 FONTE: BND/CORREIO PAULISTANO - ARQUIVO DO ESTADO DE S.PAULO
ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS