sexta-feira, 9 de outubro de 2020

CASA DOS PAPÉIS-273: CADA BANCO UMA HISTÓRIA - 09

 MANOEL CARDOSO DOS SANTOS

A história de MANOEL CARDOSO DOS SANTOS se confunde com as dos pioneiros de nosso município de DOURADO. Seus antepassados chegaram às terras de BEBEDOURO no início do século XIX. Toda a história de ocupação de terras, formação dos primeiros núcleos de população, disputa pela imagem de SÃO JOÃO BATISTA que os moradores foram buscar em carro de boi em Rio Claro, tudo se fez com a participação atuante da família CARDOSO DOS SANTOS, juntamente com todas as outras famílias tradicionais e pioneiras do BAIRRO DO BEBEDOURO. Foi aí, nesse local que nasceu MANOEL CARODOS DOS SANTOS, filho de JOSÉ CARODOSO DOS SANTOS e de MARIA FRANCISCA DOS SANTOS, no dia 26 de agosto de 1896. Com apenas nove anos de idade ficou orfão de pai e quem assumiu o comando da casa, da fazenda, dos negócios e da família foi sua mãe, uma mulher de fibra. Quando criança recebeu os ensinamentos de uma professora particular vindo de Brotas. No início da fase adulta casou-se com MARIA CERVADORO, descendente de imigrantes italianos. Foi uma batalhadora, companheira prestimosa e que sabia encarar as dificuldades do trabalho e ser parceira do marido, até nos acampamentos das empreitadas de trabalho em outras terras. MANOEL era inteligente, sensível, e aberto ao conhecimento e às novidades do seu tempo: características que foram marcantes e determinantes ao longo de sua vida. Gostava muito de música. Fez parte da banda de música de antigamente. Tocou violão por muito tempo e só parou quando se feriu na serraria e ficou com um dos dedos sem flexibilidade. Fazia parceria com sua esposa que tocava bandolim e ambos cantavam muito bem, alegrando os encontros e reuniões de família. As músicas preferidas: Saudades de Matão e Branca. Gostava muito de ler jornais para ficar por dentro das notícias e adquirir conhecimentos. Ao surgir o Rádio, ouvia o Repórter Esso e a Hora do Brasil. Em sua fazenda sempre houve muitas moradias e deu trabalho para muita gente que criou lá seus filhos e que ainda hoje voltam com netos e bisnetos procurando relembrar aqueles tempos bons. MANOEL CARDOSO DOS SANTOS tinha grande preocupação com o bem estar dos seus trabalhadores e um cuidado especial com a educação das crianças. Sempre valorizou muito a educação escolar e, por isso, mandou construir uma escola e a casa dos primeiros professores: o casal Dona NENÊ e o seu AUGUSTO. Durante o dia ensinavam as crianças e à noite ensinavam os adultos. A ESCOLINHA DO BEBEDOURO deixou saudades e boa lembrança para os que lá estudaram. E formava muitos porque ela atendia a todas fazendas e sítios do BAIRRO DO BEBEDOURO e os adultos à luz de lampião. Os professores sempre receberam muita assistência por parte de seu MANOEL, que cuidava também de transportar gratuitamente os professores que não perdiam aula nem em dia de chuva, pois para enfrentar o barro da estrada e a serra escorregadia ele tinha o cuidado de acorrentar as rodas da condução. Seu MANOEL tinha a paixão por carro de boi e fazia muito gosto de ele mesmo comandar e fazer cantar carregando oito metros de lenha ou qualquer outro produto da fazenda. Os últimos bois foram o CRUZEIRO e o CANÁRIO: dois bois enormes, de grandes chifres retorcidos, que pesavam umas arrobas cada um. Não tinha coragem de vendê-los para o matadouro, movidos pela gratidão, pela convivência e pelos serviços prestados. Vendeu-os para um particular. Em sua propriedade fez de tudo: tirou leite, plantou arroz, feijão, milho, amendoim, algodão e fez horta. Era um semeador nato: vivia com os bolsos cheios de sementes que ia espalhando onde passava ou beirando as cercas. Para o cultivo das lavouras usou de instrumentos agrícolas desde os mais simples  e rudimentares como as plantadeiras pelo homem, como os pequenos arados puxados por burros e nos últimos tempos o trator. Teve a preocupação de formar um pomar que sempre foi visitado por muitos que usufruíram dos saborosos frutos. Era comum alguém lhe dizer: -"Mas o senhor vai plantar essa árvore? Ela demora muito para dar frutos! O Senhor nem vai comer delas!" E ele respondia com sua voz mansa e educada: "Pois, se eu não comer, outro come!" E quantos comeram e ainda comem! E que pomar de jabuticaba lindo e saboroso ele fez!  Em sua fazenda os grãos que produzia eram beneficiados, triturados e transformados ali mesmo através do monjolo. Com o passar do tempo teve até maquina de arroz na cidade e uma serraria. Seu espírito empreendedor fez com que ele construísse um engenho para transformação da cana em melado, açúcar redondo, açúcar mascavo e rapadura com batata-doce, abóbora, amendoim e gergelim. Tudo o que produzia era de boa qualidade, a maior parte não era para vender e sim para presentear as pessoas. Fez até um engenho de pinga, com autorização fiscal e tudo. No rótulo das garrafas estava em destaque "CANINHA CARDOSO", não bebia, mas presenteava os amigos. Por falar em vícios, também não fumava e não gostava do cheiro do cigarro. Quem fosse fumar perto dele era impedido delicadamente, pois ele oferecia uma bala que sempre trazia no bolso, dizendo: - "Fuma este aqui ó". MANOEL foi inovador nos meios de transporte aqui em DOURADO. O seu caminhão era tão pioneiro que possuía até roda de pau. Alguns anos depois comprou uma caminhão Ford 34, zero km. Na Agência Carron em Ribeirão Bonito. Isto foi a glória , mas outros caminhões e caminhonetes se sucederam. Nessas conduções transportava de tudo e até gente. Serviu muito aos moradores do BEBEDOURO, pois sempre cabia mais um. Depois de um dia de lida dura na terra, voltava para a cidade com o caminhão carregado de lenha a ser entregue nas casas dos fregueses para alimentar os fogões que ainda não usavam gás. Transportou lenha para a DOURADENSE movimentar os trens. Transportou toda a madeira para a construção do antigo SALMER. Com seus caminhões ensinou muita gente a dirigir e deram bons motoristas. Muitos deles trabalham até hoje e lembram disso com saudade e gratidão. Logo que chegou o telefone aqui em DOURADO, ele instalou um aparelho em sua fazenda que era o único do BEBEDOURO e servia a todos os moradores. Uma curiosidade de sua vida: nunca comeu carne de vaca. Só comia carne de frango e de porco. Sua comida era feita em banha de porco e até a salada era temperada com a gordura do porco. Nunca teve colesterol e nem triglicérides. Sempre teve muita atividade física: dirigiu até os 88 anos idade e e aos 86 ainda subia em árvores altíssimas. Era um homem de muita fé religiosa e sempre alimentou uma grande devoção à Nossa Senhora Aparecida a quem dizia nos últimos tempos: "Venha me buscar minha madrinha". Ficaram boas lembranças, os bons exemplos, as saudades e os seus descendentes que continuam a construir histórias:- Seus filhos: MARIZA, casada com o Prof. CALDAS e MANOEL, o MANOELITO, casado com ELY BRAGA. Seus netos: CARLOS ALBERTO, casado com a SILVIA BRUNELLI; a RENATA; ANDRÉ e FÁBIO.
Suas bisnetas: BRUNA, BIANCA e LETÍCIA.
MANOEL CARDOSO DOS SANTOS deixou muitas histórias para contar, além dos "causos" com que entretia os amigos. Conhecendo a história de MANOEL CARDOSO DOS SANTOS, que viveu 90 anos incompletos, conhecemos um pouco da história da evolução e transformação do mundo durante o século XX.  
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HOMENAGEM: RUA MANOEL CARDOSO DOS SANTOS - JARDIM AEROPORTO
Decreto Nº551, de 05 de Março de 1986.  
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MANOEL CARDOSO DOS SANTOS e d. MARIA CERVADORO DOS SANTOS

SERRARIA SÃO MANUEL


CANINHA CARDOSO

ORQUESTRA ELOY BRAGA-11/01/1921
MANOEL CARDOSO DOS SANTOS-1º à direita sentado

ESCOLA MISTA MUNICIPAL DO BAIRRO DO BEBEDOURO


ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS/JORNAL "O DOURADO"-Nº217, DE 26/10/2007-RUDYNEI FATTORE/FAZENDA SÃO MANOEL-MALHEIRO/JORGE LUIZ CABRERA(BRÊCHA)/IZABEL GUEDES/BLOG DOURADO ONLINE.











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