quinta-feira, 22 de abril de 2021

CASA DOS PAPÉIS-285: JORNAL DE DOURADO - NUMERO 4

JORNAL DE DOURADO-NUM.4-ANO I-DOURADO (SP) - Sábado, 17 de Fevereiro de 1962

CRONICA DA CIDADE

QUEM te viu, DOURADO, município do ouro verde, com tua população rural densa, sem granjas, sem pecuária especializada, se, lavouras semi-mecanizadas, produzindo também, em abundância, frango a dois mil réis (Cr$2,00); ovos frescos a quinhentos réis (Cr$0,50) a dúzia; carne bovina fresca, diariamente a dez tostões (Cr$1,00) o quilo; leite fresco, puro, a duzentos réis (Cr$020) o litro; milho em espiga, trinta mil réis (Cr$30,00) o carro; sacos de arroz em casca e feijhão a sete mil réis (Cr$7,00)...
O trabalhador rural percebendo nas fazendas, raramente, no máximo, três cruzeiros por dia útil de trabalho, servindo se do comércio de secos e molhados, somente para compras de gêneros manufaturados... 
Quem te vê, DOURADO, hoje, com tua população rural decrescida em extremos; de habitações vasias e demolidas, transformando em Município pecuário, com granjas especializadas, com lavoura semi-mecanizadas, pagando tudo, quando encontra:- frangos a duzentos cruzeiros, cada; ovos, dúzia, Cr$100,00; carne bovina sem osso Cr$200,00 o quilo; carro de milho em espiga, Cr$10.000,00; feijão e arroz em casca Cr$2.400,00 o saco; trabalhador rural percebendo no máximo Cr$5.000,00, comprando nos armazéns, desde feijão...
Estupefato, lançando um olhar retrospectivo no cenário do teu progresso do passado, em confronto com a digressão do presente( que se diz evolução dos tempos, dos maus tempos para tua vida de Município) há de reconhecer a razão patriótica do presidente da República, o Dr. WASHINGTON LUIZ, ao deixar o palácio do Catete, prisioneiro da revolução vitoriosa, indecifrada até hoje: "SALVE SE QUEM PUDER"
ADELINO FRANCO
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A PAULISTA DE ESTRADAS DE FERRO , Consuma Golpe
Mortal, à Última Hora, Contra a Vida de DOURADO

REPRESENTAÇÃO CHEFIADA PELO PREFEITO MUNICIPAL, JUNTO AO GOVERNADOR DO ESTADO , NA CIDADE DE BAURU - CONSIDERAÇÕES E PONDERAÇÕES EM TORNO DA BANDEIRA DE LUTA - OFICIO DO DIRETOR SECRETARIO GERAL  DA CIA. PAULISTA DE ESTRADAS DE FERRO - APÊLO AO SR. GOVERNADOR DO ESTADO -

Quando as esperanças estavam voltadas para a reconsideração do decreto do senhor governador do Estado, que autorizou a supressão do ramal ferroviário DOURADO - TRABIJÚ, numa extensão de 14 kms, sábado último, 10 do corrente, depois do meio dia, com surpresa e profundo pezar públicos, deparou-se na estação local, com aviso de supressão de circulação de quatro trens mistos diários, nesse trecho, a partir de segunda-feira imediata, golpe mortal consumado à vida de DOURADO, à última hora, pela Estrada de Ferro Paulista.
Não se desconhece ou nega que, nenhuma empresa ferroviária, é obrigada  manter sua linha de transportes de passageiros e mercadorias, com deficits permanentes.
Não devem, também, desconhecer os altos poderes administrativos da ferrovia que a culpa, no caso, não cabe ao povo de DOURADO mas, única e exclusivamente, às elevações altas de suas tarifas de mercadorias e passageiros, na época em que, cada vez mais, se acentuava concorrência rodoviária.
Não devem ainda, desconhecer os senhores dirigentes da ferrovia que, o tráfego tem a sua paralização condicionada aos então acionistas da ferrovia, no decreto que autorizou, sómente, quando o Departamento de Estradas de Rodagem concluir os melhoramentos da estrada em substituição à referida supressão, conforme ofício de 2 de junho de 1961 do sr. Diretor Geral da Cia. Paulista de Estradas de Ferro a um Vereador à Câmara Municipal, concebido nos termos seguintes:
"Em resposta ao seu ofício de 26 de abril último cumpre-nos informar a V. S. que a estação de Sta. Clara, no Ramal de DOURADO, foi transformada em <<parada>>, a contar de 14 de março de 1959, por apresentar pequeno movimento de carga, encomendas e passageiros, conforme os dados constantes do quadro anexo e referentes ao ano de 1957.
Continuando, cada vez mais reduzido o movimento, no referido ramal, o governo do Estado autorizou a sua supressão , pelo decreto nº37965, de 14/01/61, e tão logo o Departamento de Estradas de Rodagem concluir os melhoramentos da estrada  em substituição será efetivada a referida supressão.
Diante dos esclarecimentos acima, verificará V. S. não ser conveniente a reabertura da estação de Sta. Clara.
Atenciosas Saudações - DURVAL AZEVEDO - Diretor Secretário Geral." 
Como se vê, desse expôsto, clara e incontestavelmente , essa medida, sem aviso prévio, pelo menos de trinta dias, da sua drasticidade chocante, desrespeito a determinada pelo senhor Governador do Estado, foi golpe mortal aplicado à vida de DOURADO, em última hora, pela Paulista.
O sr. EDMAR MONTEIRO, prefeito Municipal, tomando conhecimento do caso, organizou-se em comissão representativa e aproveitando-se da oportunidade da presença do Exmo. Sr. CARVALHO PINTO, governador do Estado, em Bauru, dirigiu-se àquela cidade, na tarde do mesmo dia, sem conseguir , no momento, o seu intento.
No ano de 1900, em meio a entusiástica vibração cívica, o sempre saudoso CIRO MARCONDES REZENDE, hasteou aqui sua bandeira de progresso ferroviário.
Sessenta e dois anos depois, no dia 11 de fevereiro de 1962, no governo de sua Excelência CARVALHO PINTO, Governador do Estado dos Bandeirantes, em meio de lamento cívico, rasgou-se a bandeira sacrossanta do progresso e levantou-se a de LUTO fechado.
Era crença enganadora que a nacionalização da Cia Paulista de Estradas de Ferro, a melhor da América do Sul, seria um bem para os povos por ela servidos.
Está, aqui, em DOURADO, por sua situação geográfica acidentada e condição de Município pequeno, a prova, dura prova de desamparo do Estado, ao qual, como pai, incumbe o sagrado dever de dar a todos os seus co-estaduanos e não tirar como lhe tirou a vida, por deficits do ramal que semore foram cobertos pela receita da então CIA. ESTRADA DE FERRO DO DOURADO.
Que, os senhores acionistas visassem melhores lucros para seus capitais, é um direito certo e líquido que lhes assistia. 
Mas, desapropriados,, o Estado acabar com a vida da sua célula viva pequena, é renegar os seus próprios filhos; é negar-lhes os mesmos direitos e amparos que empresta aos ricos, de prosperidades, na mesma igualdade proporcional de impostos.
JORNAL DE DOURADO, em memória de uma geração morta, em nome de um povo que vive, nesta hora angustiosa do seu Município, confiante no alevantado sentimento patriótico, que deve pairar acima de tudo, ao legítimo interesse público, deste recanto paulista, pedaço do mesmo céu  da Pátria brasileira, veemente apêlo, no sentido da reconsideração de todo feito governamental.
Sobrepondo-se às razões que levaram a ferrovia estadual, a essa medida, o senhor governador do Estado, afirmando expressão legítima da vontade de um povo, proclama-se forte, para garantir à supremacia do seu poder, creando-lhe um ambiente de respeito e segurança, em que possa entregar-se serenamente, à magna tarefa de governar o Estado.
O Município de DOURADO, aguarda de Sua Excia. Governador, em expectativa confiante, a reconsideração do ato que autorizou a supressão do Ramal DOURADO - TRABIJÚ, expressando-lhe os anseios de engrandecimento que deverá firmar-se no sentido das realidades da vida DOURADENSE.
A.F.


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PAPELARIA VERNALIA
Material Escolar - Artigos para Presentes
Rua Dr. Marques Ferreira,46 - DOURADO
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DOURADENSES   
 A UNIÃO FAZ A FORÇA!
Comunguemos nossos ideais: o jornal com o vosso apoio na luta pelo engrandecimento de DOURADO.
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Cumprimentos ao "JORNAL DE DOURADO"
Em continuação, recebemos congratulações pelo aparecimento deste jornal, das seguintes pessoas:
Dr. JOÃO DE OLVEIRA BUZZÁ, médico; Revmo. Padre MARTINHO, vigário da paróquia; WALDOMIRO BOSCHI, proprietário do serviço de alto-falante "A VOZ DE DOURADO"; professor SERGIO PEDRO SPERANZA; ALFREDO DA SILVA BRAGA, fazendeiro em Santa Clara; professor DAURI SPERANZA; JOSÉ DE AZEVEDO, filho do saudoso jornalista itatibense, NESTOR DE AZEVEDO; Exma. Sra. LUCIA ALVARENGA, funcionária pública aposentada; RAUL GOMES, comerciante e vereador à Câmara Municipal; VITO GOMES, estudante; Exma. Sra. IZAURA DOS SANTOS, inspetora de alunos do Ginásio do Estado; DORIVAL MUNHOZ, comerciante; LUIZ BATTISSACCO, comerciário; e Srta. LOURDES CARDOSO DOS SANTOS.
A todos, sensibilizados com esse significativo apoio e encorajamento, consignamos aqui o nosso agradecimento sincero.

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DECRETO Nº37.965, DE 14 DE JANEIRO DE 1961

AUTORIZA A SUPRESSÃO DE RAMAL DE DOURADO, ENTRE TRABIJÚ E DOURADO, PERTENCENTE À COMPANHIA PAULISTA DE ESTRADAS DE FERRO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
CARLOS ALBERTO A. DE CARVALHO PINTO, Governador do Estado de São Paulo, usando de suas atribuições legais,
DECRETA:
Artigo 1º - Fica a Companhia Paulista de Estradas de Ferro autorizada a suprimir o ramal de DOURADO, com quatorze quilômetros e quatrocentos metros de extensão.
Artigo 2º - Em virtude da mencionada supressão fica autorizada a dedução, na conta de capital da referida Companhia da importância correspondente ao custo histórico das obras, instalações e materiais a serem postos fora de uso, após tomada de contas a ser efetuada pela Secretaria de Viação. 
Artigo 3º - A supressão a que se refere êste decreto somente se efetivará tão logo o Departamento de Estradas de Rodagem conclua os melhoramentos da estrada que irá substituir o ramal suprimido.
Artigo 4º - A Companhia Paulista de Estradas de Ferro deverá promover a cessão gratuita ao Departamento de Estradas de Rodagem da totalidade ou de partes, a critério do Governo, das áreas de terreno que constituem o leito da linha suprimida e que se tornarem necessárias à construção de rodovias.
Artigo 5º - Êste decreto entrará em vigor na data de sua publicação.
Artigo 6º - Revogam-se as disposições em contrário.
CARLOS ALBERTO A. DE CARVALHO PINTO
José Vicente de Faria Lima
Publicado na Diretoria Geral da Secretaria de Estado dos Negócios do Governo, aos 14 de Janeiro de 1961
João de Siqueira Campos - Diretor Geral, Substituto.

DIARIO OFICIAL - NUMERO 12 - ANO LXXI - PAG.3 - SÃO PAULO, DOMINGO, 15 DE JANEIRO DE 1961.
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ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS / IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO(Decreto)

   

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