quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CASA DOS PAPÉIS-55: O ESCOTISMO EM DOURADO I


O ESCOTISMO EM DOURADO

  Na sua plataforma de governo em 1922 meu tio Washington Luís prometeu que a meta prioritária seria a Reforma do Ensino o que foi cumprido.
Assim que tomou posse como Presidente do Estado, determinou vultuoso recenseamento.
Uma vista pelos anuários do ensino que se publicavam em São Paulo, mostra como era precária nossa situação em matéria de educação escolar.
Era doloroso registrar que 513.079 crianças em idade escolar somente 215.407 se matriculavam em todas as escolas do curso primário. Em 1916 menos da metade 41,9%.
A falta de obrigatoriedade no ensino  levava muitos estabelecimentos a falsearem seu movimento escolar uma vez que a lei estabelecia o mínimo de matrículas para o funcionamento. O nome dos alunos que repetiam ou eram removidos continuavam a constar todos os meses para que as mesmas não se fechassem.
A criação de uma classe escolar e a criação e localização de uma escola isolada eram debatidas pelo poder legislativo e por isso mesmo de certo modo complicadas e demoradas.
Washington Luís determinou que se fizessem um recenseamento escolar, primeiro passo para uma luta séria contra o analfabetismo e em prol da educação popular.
Criou-se um órgão para isso e se dividiu o Estado em quinze zonas, chefiadas cada uma por um professor público.
Graças a colaboração dos prefeitos e demais vultos prestigiosos estimulados pela imprensa que difundia diariamente os oferecimentos , o movimento se avultou a ponto de o Orgão Central terminar o levantamento sem ter gasto toda verba destinada àquele serviço de grande importância para a execução do Plano Educacional.
Resultado: capital-crianças que frequentavam escolas: 41.532 e crianças que não frequentavam escolas: 28.749 e das 70.331 que constaram no recenseamento 36.937 eram analfabetas.
Como não houvesse verba suficiente para alfabetização  para tão vultuoso numero foi estabelecida a obrigatoriedade de matricula para as crianças de nove e dez anos de idade analfabetas e sem prejuízo do curso condensou os programas em dois anos apenas.
Construíram na forma do possível novas escolas nas regiões urbanas e rurais.
Foi determinada inclusive a obrigatoriedade da frequência na reforma do ensino.
A frequência de diversas regiões atingiu quase a totalidade sendo a média de 95% incentivando Educação Moral e Cívica, movimento que crescia com a promoção e conclusão de cursos.
Foi muito combatido como o era, ao construir estradas, mas fez ouvidos moucos.
Não se contentou a reforma com alfabetizar apenas mas a escola desse período executou vários trabalhos tendo em vista a educação moral e cívica. Do programa do curso primário consta, no primeiro ano, entre outras disciplinas, instrução moral e cívica, em duas aulas semanais. No segundo ano as aulas dessa disciplina baseavam-se em desenvolvido programa na qual se incluíam palestras sobre deveres de civilidade, de bom tom conhecimento dos deveres e direitos dos cidadão brasileiro sobre júri, serviço militar obrigatório e eleições.
Ao lado das aulas teóricas e praticas que se ministravam nas escolas públicas, são adotados o escotismo e as linhas de tiro respectivamente no curso primário e secundário.
Aqui em Dourado o movimento liderado por Baden Powell (Barão general inglês fundador do escotismo), o professor "FEU" comandava o Escotismo organizando e ministrando aos meninos todos os bons ensinamentos.
DEUS. PÁTRIA. FAMÍLIA.
O Escotismo baseava-se nessa trilogia. Diariamente era cantado o Hino Nacional, incentivando - lhes o Patriotismo.
Era praticada também uma boa ação diária.
Era-lhes confiada a guarda dos circos.
Dentre os escoteiros encontravam-se Bem Braga, José Colagrossi, José Fantini, Francisco Foschini, Leonardo Colagrossi, um  menino gordinho era o Porta Bandeira. Os demais o tempo se incumbe de apagar da memória das pessoas.
Entretanto um que se tornou inesquecível foi Lamartine Machado: o Monitor.
Era tamanho o espírito de justiça  que certa vez o Bem Braga após haver cumprido a honrosa missão de participar da guarda de um Circo de Cavalinhos desejou assistir ao espetáculo e foi contrariado pelo "Comandante Feu".
Desejou então atiçar fogo na lona do Circo, mas a tempo foi contido e trazido por dois companheiros sob a guarda do Comandante e entregue a seu próprio pai, apesar de ter sido este URIAS BRAGA o grande patrocinador em prol do movimento, pois foi ele quem dera a todos os escoteiros as barracas os uniformes com os devidos chapeuzinhos em ponta, instrumentos da fanfarra, "os trens de cozinha", etc.
Uma curiosidade: os baldes eram de lona, possuindo um aro de metal na boca e outro na parte de baixo para facilitar o transporte. Eram desmontáveis.
Quem está relatando todos esses acontecimentos está aqui ao lado acariciando uma linda bengalinha, que eles escoteiros levavam ao ombro entalhada artisticamente pelo seu pai Urias Braga, sendo ele Bem Braga um dos poucos escoteiros existentes.
Lembro-me de os ter visto marchar certa vez em Dourado, pois a fanfarra havia ganho o primeiro lugar na Concentração de São Carlos.
Marchavam cantando assim:
Ra-ta-plan o arrebol
Escoteiros vede a luz
Ra-ta-plan olhai o sol
Do Brasil que nos conduz
Lá iam eles compenetrados sob a direção do Monitor Lamartine e o justo orgulho do Professor Feu.

CECILIA DE BARROS PEREIRA SOUZA BRAGA
FOLHA DE DOURADO-Nº65, DE 11/07/1992  e Nº98, DE 30/04/1993.




CECILIA DE BARROS PEREIRA SOUZA BRAGA e

ARCILIO DA SILVA BRAGA (BEM BRAGA).

07/09/1922-COMEMORAÇÃO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA DO BRASIL
 
 
 

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