terça-feira, 21 de abril de 2020

CASA DOS PAPÉIS-245: A NOSSA REVISTA - Final

: CÍRO MARCONDES DE REZENDE :

A ESTRADA DE FERRO DOURADO, nasceu em Brotas, em uma fazenda de café.
Foi ali que o inesquecível CÍRO MARCONDES DE REZENDE fez seus primeiros ensaios, com uma pequena ferro-carril. Mais tarde, vindo para DOURADO, e sempre animado pelo seu espirito de progresso, teve a idéa de dotar esta cidade com uma estrada de ferro e, associando-se dr. GABRIEL DE REZENDE, solicitou do provéto engenheiro dr. HOMEM DE MÉLO, um estudo baseado na máxima economia e na mais aperfeiçoada técnica possível. Apareceu o projecto com o respectivo orçamento, e logo a seguir estava confiada ao mesmo engenheiro a construção dos vinte quilômetros que separavam DOURADO de RIBEIRÃO BONITO.
Terminado esse trecho, embora fossem deficitários ainda os orçamentos da pequena estrada construída, CÍRO M. REZENDE pensou em ir mais além, e dentro em pouco chegava a BOA ESPERANÇA. Grandes foram então as dificuldades que lhe embaraçavam a atividade. Longe de encontrar entre o povo que a nova estrada de ferro ia servir  aquela esperada simpatia que as populações progressistas são pródigas em manifestar, viu-se guerreado por todos os meios , devido o traçado da C. D., passando por DOURADO, elevar ao duplo a distancia que, em linha réta sendo apenas de vinte quilômetros passava a ser de quarenta e dois. Longe de desanimar, CÍRO MARCONDES DE REZENDE, distribui agentes por toda a zona e dentro de algum tempo, as estradas de rodagens não mais concorriam com a nova estrada de ferro. E os orçamentos melhoraram, animando o denodado homem do progresso a levar mais longe a C. D.
Atravessando matarias sertanejas, onde as onças davam caça aos homens do trabalho, lá foi a DOURADENSE com sua bitolinha de 0,60 cts. em demanda à IBITINGA.
Depois dissofoi que surgiram os núcleos coloniais, fundados pelo dr. CARLOS BOTELHO, a esse tempo Secretario da Agricultura do Estado. E aos poucos, a zona se povoou e tornou-se o que todos hoje podem admirar.
A linha de ITAPOLIS, a de BARIRI e, por fim o ramal de JAÚ, foram complemento, como sequencia lógica do homérico esforço de um homem que nunca sentiu desanimo ao enfrentar as maiores dificuldades.
Os habitantes da zona servida pela DOURADENSE, devem todo o seu progresso ao homem que recordamos. Não fôra ele e não teríamos por aqui talvez um simples quilometro de estrada de ferro, pois outro, não se animaria a tamanha tarefa, sabendo de antemão, que os capitais empatados não teriam a sua justa compensação, em virtude da concurrencia que se evidenciava e que aí existe a tolher o desenvolvimento normal da estrada. E para comprovar este acerto basta examinar os relatórios publicados anualmente.
Somente um homem do feitio especial de CÍRO MARCODES DE REZENDE, poderia iniciar e concluir um trabalho desta natureza. Outro, que tivesse apenas em mira os lucros a auferir, não teria, por certo, coragem para fazer o que aí está. É uma obra gigantesca, que foi levada a seu termo, por um brasileiro, cujo nome deve ser relembrado como verdadeiro símbolo do trabalho.
O BRASIL precisa de mais filhos desta pujança.
É com eles que terá de contar na formação da sua maior grandeza.
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Um trem de gado original
 
Há dias tive um pesadelo verdadeiramente exquesito e tão  hilariante, que até hoje, quando delle me lembro, não posso deixar de expandir-me numa estrepitosa gargalhada.
Deitara-me nessa noite sob o peso de um opíparo jantar, cuja digestão  sérios conflictos, por certo, me estava occasionando nas "regiões intestinas".
E, tomado de insomnia procurei lêr qualquer cousa monótona para mais rapidamente reconciliar o somno.
Passei então, as vistas sobre o "Tico-Tico", "Histórias de Fadas", "Contos da carochinha" e por fim, "Código da Policia Sanitaria Animal". E, quando conseguia chegar ao final das disposições sobre embarques de gado, comecei a pestanejar com a morosidade do somno, que minutos após cerrava-me as pálpebras.
Sonhei então, que havia sido nomeado Chefe do Movimento e, logo no meu primeiro dia de trabalho, tinha sobre a meza, para providenciar, uma requisição dum trem especial para o transporte de 200 bois.
Sentia-me inmensamente embaraçado, não sabendo o que deveria fazer para providenciar esse especial.
E, meio aturdido, já maldizia a má hora que acceitára semelhante cargo, pois a situação  em que me achava era das peiores; estava metido em palpos de aranha ou em camisa de onze varas.
Passei a rebuscar no escriptorio tudo que se referisse a esse transporte, até que deparei emfim, com uma solução! Exclamei -: Eureka!!
Encontrára numa das gavetas da escrevaninha de meu antecessor o "Código de Policia Sanitaria Animal".
Numa leitura rápida mas precisa, devorei as suas paginas, e inteirando-me das determinações desse "Código" para a organisação dum trem de gado, que, no Capitulo XV, vão do art. 97º. ao 108º., comecei a anotar:
O art. 104, menciona:
a) § 1º, alínea a): "A área mínima para cada animal deve ser de 2m,56cms. X 0,90cms, ou sejam 2m. 30cms 2".
Tendo uma gaiola dupla 23ms2, em cada gaiola deviam ser collocados no máximo 12 bois.
Para aquele transporte precisaria pois, de 18 gaiolas duplas!
b) §2º:- "Deverá haver 1 tratador para cada 20 bois". Seria preciso então , uma "esquadra" de 10 homens, ou seja um quarto das lotação dum carro-salão de 2ª classe.
c) §3º:- " A ração diária a cada animal será de 36 kilos (com o excesso previsto no §4º).
Para cada 10 bois, seriam preciso 360 kilos de forragem secca, ou seja uma insignificância de 7.200 kilos para os 200 bois, que corresponde, nada mais nada menos, à lotação de um vagão pequeno!
d) § 5º:- "A quantidade de agua para cada animal será de 45 litros".
Logo, para os 200 bois, seriam precisos 9.000 litros desse liquido ou sejam dois tenderes cheios!!
Achára muito extranhas taes instrucções, pois, estava certo de nunca ter visto uma composição semelhante!...
Mas... "dura lex sede lex"; eram as instrucções que deveria seguir.
Organisei então, dois trens, com as locomotivas 16 e 17, tendo cada um deles a seguinte composição:
 - 9 gaiolas duplas, 1 vagão pequeno para levar a forragem para o gado, 1 carro de 2ª classe para conduzir os "tratadores", e um tender para fornecer agua aos animaes!!!,,,
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E assim, foi tudo cumprido.
No dia seguinte porem, logo pela manhã fui chamado à toda pressa para acudir à sério conflicto que se passava na estação de TRABIJÚ.
Levantei-me sobresaltado e corri ao local. Tive então, de apreciar um tumulto enorme! Compacta massa de moradores de TRABIJÚ em disputa de logar na plataforma se esmurrava, e cada vez mais se comprimia pelas paredes da estação à chegada de um trem.
Pensei logo tratar-se de curiosidade excessiva por viajar talvez, algum vulto eminente...
Mas, reparando bem, vi que não era trem de passageiro e sim de cargas, e pelo apito parecia-me ser a loc. 16 ou 17!
E ao approximar-me... oh! que "banalidade"! verifiquei ser o "trem especial de gado, organisado de acordo com o Código de Policia Sanitária Animal" que havia attrahido  toda aquella gente que, desde longo annos, nunca tinha visto um "especial de accordo com a Lei n. 2.172, 28 de Dezembro de 1926!!
Intrigado porem, com aquella singular ocorrência, chamei um auxiliar e perguntei:
- O que essa gente tanto admira?! respondendo-me elle:
- É que o transporte de 200 bois, sempre foi feito, apenas com especial  de 10 gaiolas e uma locomotiva!!!
Diante disto, tão pasmo e estupefacto fiquei que accordei daquelle horrível pesadelo!!!
EUMESMO
 
























UM TREM DE GADO EM TRAÇÃO DUPLA EM TRABIJÚ - LOCS. 16 e 17
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O aperfeiçoamento mecânico, tem, nos tempos hodiernos extraordinária vantagem sobre os rústicos aparelhos de entanho que exigiam maior esforço físico dos seus manejadores sem o que nada produziriam e assim mesmo apresentavam falhas, que, hoje, os olhos perquirirtivos dos técnicos desvendavam ao primeiro golpe de vista. No entanto, os aparelhos modernos que tudo fazem com perfeição impecável, não podem prescindir do auxilio humano, desde os seus desenhos até serem postos em movimento..
Diante deste preambulo se conclue, que, o homem está em todas as atividades. O seu concurso se faz preciso em todos os empreendimentos.
Nas oficinas da C. D., onde as maquinas executam obras de alto valor, nota-se que inteligência humana ali, campeia, brilhantemente. As reparações são feitas com notável precisão, graças à criteriosa orientação dos mestres que ali se aplicam quotidianamente em labor fecundo. Dentre eles queremos destacar o sr. DIONISIO MURBACK, ajudante do chefe das oficinas, cujo cliché estampamos acima, com satisfação. 
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É com o mais intenso júbilo que estamos nesta coluna a fotogravura do sr. JOAQUIM TEIXEIRA DE OLIVEIRA, um dos chefes dedicados da Cia. DOURADO, que tem acompanhado os seus dias de progresso e revezes debatidos, prestes a se desligar do quadro ferroviário, visto que vai ter a sua aposentadoria ordinária, premio dos seus longos 30 anos de serviços.
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Locomotiva n. 1, de 0,50 cents. precursora do notável adiantamento da C. D. de hohe e que, em 1899, sob a ação vigorosa do imortal sr. CIRO MARCONDES DE REZENDE, veio despertar DOURADO, do letargo em que vivia, cooperando eficientemente para o seu progresso, para sua cultura, e tornando-o mais conhecido dos centrso adiantados. O mesmo aconteceu com as demais cidades por onde a maquina 1, ia passando, em demanda dos sertões, que agora são centros ativos.
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ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS
 
 

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