sexta-feira, 17 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS - 06: JOÃO JACOB KLAIN



 
FALAR DO PRÓXIMO
 
Não gosto de falar do próximo
Essa frase me surgiu
Falá da vida do João Branco
Ele mesmo é que pediu
Há tempo ele mora no sítio
Muita roça ele carpiu
Resolveu largá daquilo
Veja o ramo que seguiu
Vendê bilhete de loteria
Muito bem ele saiu
Levô sempre a vida mansa
Boa casa possuiu.
 
Pra falá do que eu sei
Pra isso sô muito franco
35 anos vendeu bilhete e
Até hoje por enquanto
Não deu a sorte pra Dourado
Nem com promessa pra algum santo
Até parece impossível
Represente um encanto
Até mudaro o nome dele
Que lastrô por todo canto
Nome próprio é Benedicto Braga
É conhecido por João Branco.

Braga tinha uma freguesia boa
À dinheiro ou até fiado
Onde tinha o Nardinho
Que tava sempre a seu lado
Comprava bilhete em pedaço
E também bilhete fechado
Sendo um rapaz honesto
Seus negócios legalizado
Sempre pagou suas contas
Em prazo e dia marcado
Assim fala quem conhece
Todo o povo de Dourado.

Eu bem dessa não sabia
Um amigo me informo
Braga tinha o bilhete da sorte
Veja no que resultô
Ele ofereceu ao Nardinho
Freguês que nunca falhô
"O bilhete me interessa
Mas o dinheiro acabô
Você me espera só dois dias"
A verdade confessô
Braga se achando apertado
O fiado recusô
 
Braga foi pra Jaú
Com seus bilhetes e sua lista
Não consegue vendê o bilhete
Nem por mais que ele insista
Não quis picá o bilhete
"Que opinião esquisita!"
O dia ia se passando
Já era hora finalista
"Prá mim vortá com o bilhete
Isso muito me prejudica..."
Vendeu o bilhete sem lucro
Passou pra outro cambista
 
Quando correu a loteria
No dia da extração
Era o galo no 1ºprêmio
Um mundo dum dinheirão
Braga muito aborrecido
Sem ter uma solução
"O que que fui fazê
Praquele freguês tão bão!"
Nardinho também cramava
Mas com muita razão
Nem queria brincadeira
Tava bravo que nem leão.
 
O rico já nasce quá sorte
Que vem por Deus verdadeiro
E no mundo tudo vive
Vamos vivendo o mundo inteiro
Quem tem saúde e amizade
Já possui muito dinheiro.
Ter inveja é pecado
Recramá é exagero
Há um ditado muito certo
Que serve para o mundo inteiro:
"Quem nasce pra um centavo
Nunca atinge um cruzeiro".
                                                                                                                                                                 
                               JOÃO BRANCO e BEM BRAGA      Praça São João/1978-Foto:OMC


                                                                                                                                                                      
                                                                                                                        
               
                                                                                                              
   Autor: JOÃO JACOB KLAIN
   Obra: POEMAS
   Edição: Setor Cultural UFSCAR
   Ano: 1987                                                                
 
                                                                         
 

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