sábado, 7 de setembro de 2019

CASA DOS PAPÉIS-214: DOURADO É POESIA - 06


RECITAL
 
Contemplando a chuva resvalando na vidraça,
gôta cálida dentro de jardim sem flôres,
quadro traçado de matizes incolores,
ave vinda de bruma, perdida em fumaça...
 
Tanger sôbre vidro que rigor transparece...
Canção deslumbrante sob luz de aurora,
Plangida por solista em vertigem sonora,
que nunca vê término para sua prece.
 
Música que o vento fugaz torna soturna
Tortura frágeis cordas donde brota a lira
desilude a quem por instante não delira
evoca vagas vozes de profunda furna.
 
Um turbilhão de sons que pedras acetina,
embala clara treva por noite deserta,
vãs páginas, pássaros, pétalas desperta
e não consegue transpor a vítrea cortina...
 
 
JOSÉ FRANCISCO VERNALIA
JORNAL DE DOURADO-Nº268-ANO VI-DOMINGO, 31 DE MARÇO DE 1968
ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS
 
 
 

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